Uma narrativa mágico-realista sobre o sentido da vida, o fluir da existência e a essencialidade da morte. Representados num entrelaçamento de histórias de personagens profundamente humanos atormentados pela culpa. Uma galeria de personas desoladas expostas em seus dramas e erros, fragilidades e pesadelos, escravizadas por paixões e medos. Uma alegoria da humanidade em sua finitude, realizada com a delicadeza e a mão levÍssima de uma autora guiada pela compaixão, num texto impregnado de lirismo. *** O epicentro deste romance de Sonia Zaghetto é a reflexão sobre o que o ser humano faz da vida que lhe foi concedida e até que ponto esse viver é resultado exclusivo de uma escolha. No fim de tudo, no instante em que se vir cara a cara com o que foi o seu destino, haverá ainda tempo para expiar as culpas, justificar os erros, compensar o que poderia ter sido feito, mas não foi sequer tentado? Ali, no acerto de contas que poderá (ou não) existir do outro lado da vida, ainda será possível vestir-se com as mesmas roupas, usar as mesmas máscaras, iludir novamente a plateia atônita e enganar a si mesmo? Todas essas questões desfilam nas vozes das magníficas personagens deste Histórias Escritas na Água. Elas serão, assim, no grande palco da vida, a representação de nós mesmos a contar as suas (as nossas?) histórias, no incessante devir entre fazer ou não fazer, agir ou deixar quieto, comprometer-se ou omitir-se – ao entretecer as cerdas deste imenso tapete de cordas a que chamamos Humanidade. É um romance-ritual, que narra esse embaraço duvidoso entre existir e fenecer, formado de múltiplas histórias dentro de uma só, nas quais nos vemos refletidos nas trajetórias sucessivas das personagens que aqui nos falam de paixões, amores, ciúmes, invejas, traições, enganos, ternuras... É uma história que nos apresenta, sob algum verniz de realidade – mas ainda apenas como pálidas sombras – as engrenagens do que é ser demasiadamente humano.